Um caso vem chamando atenção ao ser noticiado nesta quarta-feira (25). Trata-se de um homem de 41 anos que resolveu denunciar a própria irmã, de 49, à Justiça Federal, após ela ter participado dos protestos do dia 8 de janeiro, que resultaram em invasão e vandalismo contra a sede dos Três Poderes, em Brasília.
“Minha irmã, que é servidora pública, disse que estava de férias e contou à família que viajou a Brasília ‘a trabalho’. Eis que, no domingo [dia 8 de janeiro], ela não apenas mandou no grupo da família no WhatsApp um vídeo dos ataques ao Congresso, como fez uma chamada de vídeo lá de dentro”, disse ele em relato ao portal UOL.
“Eu estava assistindo ao vivo pela internet [à cobertura dos atos golpistas], quando recebi a ligação dela. Fiquei revoltadíssimo”, continuou o homem, que preferiu não se identificar. Ainda de acordo com o portal, ele “e parte da família são alinhados com pautas da esquerda e apoiaram a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).”
Em seu relato sobre a irmã, o homem deprecia a sua postura atual no tocante à opinião político-ideológica, fazendo parecer que a funcionária pública não seria mais uma pessoa honesta e trabalhadora simplesmente por apoiar o ex-presidente Jair Bolsonaro.
“Minha irmã era uma pessoa trabalhadora, correta, íntegra. Mas ela se transmutou em 4 anos de uma forma que não a reconheço mais. Não a reconheço como irmã. É outra pessoa: mais endurecida, radical, obtusa”, declarou.
A visão do cidadão parece refletir o viés generalista transmitido por grande parte dos meios de comunicação tradicionais, os quais passaram a rotular todos os manifestantes dos atos de 8 de janeiro como “terroristas”, como bem observou a jornalista Paula Schmitt em sua coluna no Poder360.
Tendo em vista o grande número de envolvido nos atos, muitos manifestantes argumentam que apenas uma parte deles promoveu vandalismo, enquanto muitos outros protestaram pacificamente, inclusive do lado de fora das dependências dos Três Poderes.
Foi por causa disso, também, que a Justiça precisou fazer uma triagem com os 1.395 detidos, a fim de poder ouvi-los e especificar quais cometeram, de fato, crimes tipificados na legislação penal, e quais estavam se manifestando de acordo com o permitido pela Lei.
Ou seja, qualquer generalização de caráter condenatório a essa altura é, de fato, descabida e especulativa, já que tudo ainda está sendo apurado. Boa parte da imprensa, contudo, não parece estar tendo a devida responsabilidade ao tratar do assunto, especialmente os aliados do atual governo.
“Minha mãe, que sempre foi ativista pró-esquerda, está devastada desde então. Meu avô, pai dela, era comunista e chegou a ser preso pela ditadura logo depois do AI-5 [decreto que marcou o período de maior repressão e censura da ditadura militar]”, continuou o denunciante em seu relato, que ao final pede a prisão da própria irmã:
“Mandei o e-mail de denúncia chorando. É uma sensação muito ruim, de fracasso, ver alguém do seu núcleo mais íntimo com esse perfil, travestido de um patriotismo fajuto. Sei que isso pode trazer complicações para ela, até no trabalho. Mas crime não tem desculpa e é a Justiça quem tem de decidir.”
“Como tenho perfil legalista, gostaria que minha irmã fosse de fato presa e indiciada. Só temo pela saúde emocional da nossa mãe. Quando ela soube que denunciei, ficou apavorada, sem saber o que vai acontecer. Mas eu disse: ‘vamos aguardar’. Fiz minha parte e espero que as autoridades façam a parte delas”, concluiu.