Desde quando divulgou uma carta à nação no dia 9 de setembro passado, pedindo moderação entre os poderes, sinalizando o interesse de se conciliar com os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente Jair Bolsonaro passou a adotar uma postura completamente diferente da que vinha tendo em relação às eleições de 2022, algo que inicialmente foi criticado até por alguns apoiadores.
Todavia, no tempo seguinte, Bolsonaro passou a fazer algumas declarações sobre as eleições de 2022 que agora parecem esclarecer, e de uma vez por todas, o motivo da sua mudança e aparente tranquilidade em relação ao resultado da apuração nas urnas eletrônicas.
Em uma entrevista concedida na semana passada, por exemplo, Bolsonaro citou um detalhe que parece ser o ponto-chave da questão. Ele revelou que consultou o ministro da Defesa, general Braga Netto, e os comandantes das Forças Armadas, sobre a participação dos militares no processo eleitoral do ano que vem.
“Conversando com o ministro e comandantes das Forças, aceitamos o convite para participar de todas as etapas das eleições, desde a abertura do código fonte até a sala secreta”, revelou o presidente. Na ocasião, Bolsonaro disse que por causa disso, passou a acreditar no voto eletrônico.
O convite que o presidente se referiu, foi feito em agosto passado pelo atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luiz Roberto Barroso. O magistrado também estendeu o mesmo convite à Polícia Federal e outras entidades.
A fala do presidente, no entanto, ao creditar confiança no voto eletrônico, sugere que na verdade ele está transferindo essa confiança exclusivamente aos militares. Não por acaso o presidente enfatizou a participação das Forças Armadas, repetindo a sua fala, como quem quis chamar atenção para essa condição.
“Assim sendo, pode confiar no sistema eleitoral. Dificilmente vai ter uma fraude nele. Repito: as Forças Armadas participarão de todos os processos por ocasião das eleições do ano que vem”, disse Bolsonaro, com destaque nosso.
Ao anunciar que agora confia no voto eletrônico, alguns apoiadores do presidente chegaram a criticá-lo, visto que uma das grandes pautas nas manifestações no dia 7 de setembro foi a defesa do voto impresso. No entanto, os críticos parecem não ter compreendido que, na verdade, Bolsonaro está condicionando a sua confiança ao papel dos militares.
Ao revelar que conversou com o ministro da Defesa e os comandantes das Forças Armadas, antes de aceitar o convite de Barroso, Bolsonaro também sugere que recebeu da boca dos próprios generais a garantia que gostaria de ouvir sobre a segurança das eleições em 2022. Em outras palavras, que se houver qualquer clima de desconfiança ou algo obscuro durante a apuração dos votos, providências serão tomadas.