A jornalista Andréia Sadi destacou, nesta terça-feira (1°), durante o programa Estúdio i, que a esquerda enfrenta obstáculos para mobilizar apoio “tanto no ambiente digital quanto fora dele”, enquanto a direita avança no debate nas redes sociais. Sua análise ocorreu após manifestações de baixa adesão convocadas por grupos progressistas no último domingo (30).
— Eles não conseguem mais mobilizar. Não é só no mundo digital, no analógico também, e no digital, menos ainda. Porque a direita, com tudo isso, dois anos, trama golpista investigada, consegue ganhar o debate nas redes em vários pontos, como nesse da Débora, o caso do batom — afirmou Sadi, referindo-se ao caso da cabeleireira Débora Rodrigues, condenada por escrever “Perdeu, Mané” em uma estátua do STF com batom — episódio que se tornou símbolo nas narrativas conservadoras.
A comunicadora reconheceu a eficácia da direita no uso das plataformas digitais:
— Todo mundo sabe. As pessoas podem não saber em detalhes o que foi a trama golpista, mas quem acompanha redes sociais sabe do que se trata o batom da Débora. Essa foi uma narrativa que eles construíram de forma bem-sucedida. São muito bons nas redes sociais.
Contexto
As declarações de Sadi seguem protestos organizados pela esquerda no domingo (30) contra a anistia aos presos dos atos de 8 de janeiro de 2023, quando manifestantes invadiram sedes dos Três Poderes em Brasília. As mobilizações, convocadas pelo deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) e pelos movimentos Povo Sem Medo e Brasil Popular, tiveram baixa participação.
Na Avenida Paulista, em São Paulo, principal ponto de concentração, o portal Poder360 estimou a presença de 5,5 mil pessoas. Boulos compareceu ao ato, mas ministros do governo Lula (PT) evitaram participar, segundo fontes da Esplanada, para não associar a gestão a um evento com engajamento reduzido.
Estratégia de ausência
A decisão de membros do governo de não comparecer aos protestos foi tomada após análises internas indicarem que a presença em um ato “esvaziado” poderia prejudicar a imagem do presidente Lula. A avaliação sugere cautela diante do momento político, marcado por discussões sobre a eficácia da comunicação petista e pressões relacionadas à agenda de direitos humanos.
Debate sobre narrativas
Enquanto a esquerda busca reverter a desmobilização, Sadi ressaltou a capacidade da direita de “construir símbolos” e simplificar discussões complexas. O caso do batom, por exemplo, tornou-se um “atalho narrativo” para críticas ao Judiciário, tema central em discursos conservadores.
Especialistas em comunicação política apontam que a diferença de engajamento reflete não apenas estratégias digitais, mas também a fragmentação de pautas progressistas versus a unificação de bandeiras pela direita, como segurança pública e combate à corrupção.
O governo Lula planeja, segundo assessores, intensificar ações em redes sociais nos próximos meses, com foco em temas econômicos e programas sociais, na tentativa de reconquistar espaço no debate público.