O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prepara mais uma solenidade no Palácio do Planalto para marcar o aniversário dos atos de 8 de janeiro de 2023, data em que manifestantes invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes em Brasília.
A cerimônia, que ocorrerá nesta quarta-feira, terá a presença dos comandantes das Forças Armadas — almirante Marcos Sampaio Olsen (Marinha), general Tomás Paiva (Exército) e tenente-brigadeiro Marcelo Damasceno (Aeronáutica) —, além de representantes de entidades civis e religiosas.
A programação inclui a reintegração e entrega de obras de arte restauradas, como o quadro “As Mulatas”, de Di Cavalcanti, danificado durante a invasão. Em seguida, Lula descerá a rampa do Planalto ao lado de autoridades dos Três Poderes, em um gesto simbólico semelhante ao realizado em 2023, quando o governo promoveu uma caminhada de repúdio aos ataques.
Exploração política e participação da esquerda
A solenidade, no entanto, é vista por críticos como mais uma tentativa do governo petista de explorar politicamente os eventos de 8 de janeiro. Em 2023, o PT já havia utilizado a data para promover um ato em “defesa da democracia”, com ampla participação de militantes e aliados.
Este ano, a esquerda reforçará sua presença com um ato na Praça dos Três Poderes, organizado pela Frente Brasil Popular, movimento que reúne partidos e entidades alinhadas ao PT.
O ministro da Defesa, José Múcio, e os comandantes militares, que já haviam participado do evento no ano passado, confirmaram presença novamente. Em 2023, Múcio destacou o compromisso das Forças Armadas com a democracia, mesmo diante das pressões sofridas.
O termo “militares legalistas”, utilizado por Lula na ocasião, gerou desconforto entre os militares, mas reforçou a imagem de que as Forças Armadas estariam alinhadas ao governo.
Ausências e contexto político
Apesar da presença de autoridades militares e de representantes do Executivo, a adesão de outras figuras políticas ainda é incerta. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ainda não confirmaram participação. O evento ocorre a menos de um mês das eleições para o comando do Congresso, o que pode influenciar a decisão de parlamentares em comparecer ou não.
Em 2023, vários governadores desistiram de participar do ato ao perceber a exploração política do episódio. Este ano, a expectativa é que a cerimônia seja marcada por um tom ainda mais partidário, com a presença de militantes e organizações alinhadas ao PT.
Indulto natalino e exclusão dos presos de 8 de janeiro
Na semana passada, Lula assinou o indulto natalino, que beneficia mães e avós condenadas por crimes sem grave ameaça ou violência, além de pessoas com HIV em estágio terminal, gestantes em gravidez de risco e indivíduos com transtorno do espectro autista severo. No entanto, os presos condenados pelos crimes cometidos em 8 de janeiro foram novamente excluídos do benefício.
O decreto prevê a liberdade para condenados a penas inferiores a oito anos que já cumpriram parte da sentença, mas os envolvidos nos atos de 2023 continuam fora dessa possibilidade. A decisão reforça a postura do governo de tratar o episódio como um marco de resistência democrática, enquanto críticos apontam para o uso político da data.