O ano eleitoral segue em clima de conflito entre os poderes da República, sendo parte disso a consequência de um convite feito pelo ministro Luiz Roberto Barroso aos militares das Forças Armadas, na época em que presidia o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Segundo o jornalista Rodrigo Rangel, membros da cúpula do Judiciário avaliam que o convite de Barroso foi um “tiro no pé”. O ministro, então presidente do TSE no ano passado, chamou os militares para integrar a Comissão de Transparência Eleitoral da Corte. O convite foi aceito, para a alegria do presidente Jair Bolsonaro.
“Ocorre que, uma vez dentro da comissão, os oficiais apresentaram questionamentos sobre as urnas eletrônicas; logo depois, essas indagações passaram a ser usadas politicamente pelo presidente da República”, informou Rangel.
Como resultado, a tensão entre o governo e o TSE aumentou, com críticas por parte do presidente Jair Bolsonaro, assim como pelas reações dos ministros Barroso e Edson Fachin, esse último o atual presidente do Tribunal.
Barroso chegou a dizer que que as Forças Armadas estavam sendo usadas “para atacar o processo eleitoral”, o que foi considerado um grave ataque à instituição militar. Fachin, por sua vez, alfinetou a cúpula da caserna ao dizer que quem trata de eleições são as “forças desarmadas”.
Com isso, segundo militares que possuem acesso à alta cúpula do Exército, ouvidos pela coluna de Rangel, a boa relação dos militares com o TSE só poderá ser restaurada, no momento, com um “pedido de desculpas” por parte dos ministros, ou após a mudança de comando no Tribunal.
O próximo presidente do TSE será o ministro Alexandre de Moraes, e os militares esperam ser possível restaurar o equilíbrio, uma vez que o magistrado possui um histórico de boa relação com os comandantes.
A dúvida, porém, diz respeito aos eventuais desdobramentos políticos até lá, bem como durante a gestão de Moraes, tendo em vista que o ministro tem sido considerado o principal inimigo do presidente Jair Bolsonaro no Judiciário.
Quanto aos questionamentos dos militares sobre as urnas eletrônicas, eles disseram que não possuem qualquer conotação política. Em vez disso, garantiam “que as questões enviadas têm caráter estritamente técnico”, informou Rangel.